domingo, 7 de dezembro de 2008

Texto Crítico do Livro Frei Luís de Sousa

Foi em 1844 que Almeida Garrett publicou, Frei Luís de Sousa, considerada por muitos a «obra mais brilhante que o teatro romântico produziu". Marcou uma viragem na literatura portuguesa não só pela selecção dos temas, que realçam a história nacional em vez da antiguidade clássica, como sobretudo na liberdade da acção e na naturalidade dos diálogos.

A história conta, um drama romântico que se abateu sobre a família de Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena.

A trama começa numa "câmara antiga, cheia de luxo e elegância dos princípios do século XVII", no Palácio de Manuel de Sousa Coutinho, em Almada. Neste espaço elegante parece brilhar uma felicidade, que será, apenas, aparente.
A primeira personagem a entrar em cena é D.Madalena que repete insistentemente os versos dos Lusíadas:

"Naquele engano d'alma ledo e cego,que a fortuna não deixa durar muito…"

D. Madalena vive preocupada com a possibilidade do regresso de D. João de Portugal seu primeiro marido, desaparecido em combate com D. Sebastião, na Batalha de Alcácer Quibir, dando disso conhecimento a Telmo seu fiel criado. As preocupações estendem-se a sua única filha D. Maria devido à fragilidade da sua saúde.

D. Madalena toma conhecimento através de Frei Jorge – seu cunhado – que devido à peste que assolou Lisboa, a sua casa foi requerida pelos Governadores do Reino, o que é confirmado com a chegada de Manuel de Sousa Coutinho a casa, gerando-se entre os presentes um grande alvoroço.

Manuel de Sousa Coutinho, pede a D. Madalena que fuja com Maria, Telmo e seus pertences para a sua antiga morada e em desespero incendeia o seu Palácio mostrando assim o seu Patriotismo, o que aumenta a acção dramática precipitando a mudança dos acontecimentos.

D.Maria conversa com Telmo, no Palácio de D.João de Portugal, num «salão antigo, de gosto melancólico e pesado, com grandes retratos de família…" que era a primeira morada de D.Madalena quando era casada com ele, e que agora se viu obrigada a retomar, uma vez que o incêndio posto por D. Manuel de Sousa Coutinho, lhe destruiu a o seu Palácio.

A acção atinge o auge com o aparecimento de um Romeiro que diz trazer uma mensagem para D.Madalena. Ao ser inquirido por ela, o Romeiro diz trazer uma mensagem de África de um Homem… ao que D. Madalena lhe pergunta se é dos lados de Alcácer Quibir …, à confirmação do Romeiro, D. Madalena foge gritando aterrorizada, o desfecho dá-se quando o Romeiro (que é D. João de Portugal) revela a sua verdadeira identidade.

Com esta revelação, o casal, tomado pelo desespero, decide ingressar na vida religiosa adoptando novos nomes: Frei Luís de Sousa e Sóror Madalena.
Na capela, que se situa na "parte baixa do Palácio de D. João de Portugal"- "É um grande casarão sem luxo algum". O espaço denuncia o fim das preocupações materiais. Os bens do mundo são abandonados através da entrada de D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho para o convento.

Decidem ambos professar, D. Manuel no convento de S. Domingos de Benfica e D. Madalena no convento do Sacramento.

Durante a cerimónia, Maria de Noronha, filha do casal, tomada pela vergonha e pelo desespero, morre aos pés de seus pais.


Esta peça de Garrett revela notável unidade de acção, reduzindo ao mínimo indispensável o número de personagens e deixando antever o desfecho trágico logo desde a primeira cena.

Na estrutura da peça, Garrett pretendeu também prestar o seu tributo ao teatro clássico.

Utilizou características mais inovadoras, mais românticas e vocabulário do dia a dia, introduziu nos personagens mais sensibilidade, pressentimentos de desgraça assim como o patriotismo manifesto na resistência aos governadores espanhóis, os personagens estavam sempre cobertos de religiosidade e ao mesmo tempo de crenças e superstições.

Mas com esta obra, Garrett, para além de devolver a nacionalidade ao teatro que era representado em Portugal, para que todos aprendessem a gostar de pensar sobre o passado e o futuro da Nação, também abordou um dos temas mais importantes que é sem dúvida na obra o da liberdade de amar, mesmo contra as convenções sociais da época.

Garrett critica o modo como na sua época se pretendia fazer o drama, por isso com contenção e simplicidade fez uma obra em que demonstrou que o Teatro Português não necessitava à época de se socorrer de cópias vindas do Estrangeiro.



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